domingo, 5 de dezembro de 2010

FOTOS DO LANÇAMENTO

ANITA, SOCORRO LINHARES, DIONISIO, SOCORRO AUGUSTO

HILNÊ, MAMÃE, EVANDRO FILHO E EU

COMPOSIÇÃO DA MESA: DIMAS, ELMANO, HEITOR, RONIVALDO, EU, BRANDÃO E JOÃO DE LEMOS

ELDON, DIMAS, BRANDÃO E EU

DIMAS APRESENTANDO A OBRA E A AUTORA

EU E BRANDÃO (CÔNSUL DE PROTUGAL EM FORTALEZA)

EU DISCURSANDO

ORGULHOSA PELOS AMIGOS ÉTICOS

EU E JOÃO DE LEMOS PRESIDENTE DA ALL

EU E DIMAS MACEDO

HEITOR FÉRRER, EU E RONIVALDO MAIA









domingo, 12 de setembro de 2010

Matéria publicada no Jornal Diário do Nordeste - 12/09/2010 - Por Dimas Macedo

Detalhe da capa do livro "As cidades de Chico Buarque", de Cristina de Almeida Couto,
num processo de montagem.

ENSAIO


Cruzando ruas: os passos deixados por canções

12/9/2010

Chico Buarque de Holanda pertence a uma elite de intelectuais brasileiros que, em face de sua competência e militância, alcançaram ressonância internacional. A essa elite pertencem, também, criadores como Vinícius de Moraes e Tom Jobim, Celso Furtado e João Cabral de Melo Neto, Augusto Boal e Gilberto Gil



As raízes do samba e a malandragem carioca, o nacionalismo político de Getúlio, a aventura musical da Bossa Nova e a repressão militar da década de 1960 jogaram o destino do Brasil nas mãos de Chico Buarque de Holanda: misto de compositor e teatrólogo, romancista e intérprete da contextura lírica do Brasil. O poeta, o cronista, o militante político, o intelectual e o letrista estão em Chico Buarque como em nenhum outro representante da nossa estética cultural e política. Sempre carregou na alma os estigmas da herança paterna, provinda do refinamento e da reflexão de Sérgio Buarque de Holanda, que pôs em questionamento os sentidos da brasilidade e o chamado jeitinho brasileiro.



As Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda são as raízes que sempre alimentaram a escansão poemática de Chico Buarque, quer do ponto de vista da nossa formação social, ou ainda quando tomada a musicalidade das suas letras a partir da nossa urbanidade e da nossa memória coletiva.



Chico Buarque de Holanda é uma espécie de síntese do Brasil profundo, da nação que nunca se curvou diante do arbítrio. A sua voz e a sua sensibilidade serviram, durante muito tempo, de esteio do povo brasileiro, porque um intelectual, comprometido com a sua consciência, constitui uma força social que se eleva muito acima da norma do Estado. Neste texto, contudo, não pretendo falar da personalidade de Chico Buarque de Holanda, sequer do seu perfil de intérprete da nossa música popular. Sobre ele muito já se disse, mas é certo também o afirmar-se que muita coisa ainda resta a dizer.



E entre as coisas que ainda resta a dizer, sobre o discurso e a prática musical de Buarque, eu queria destacar as suas relações com as cidades, ou com a problemática do espaço urbano, especialmente porque não existe apenas uma, porém diversas personas por trás desse grande artista brasileiro.



Sei que existem livros seminais sobre Chico Buarque de Holanda, tais os de Adélia Bezerra de Menezes (Poesia e Política em Chico Buarque de Holanda), Rinaldo de Fernandes (Chico Buarque do Brasil) e Wagner Homem (Histórias de Canções - Chico Buarque), mas o texto de Cristina de Almeida Couto - As Cidades de Chico Buarque (Fortaleza, Edições Poetaria, 2010) é um livro que, de plano, nos chama a atenção.



A autora, jornalista e publicitária de talento, reveste o seu discurso com as cores da comunicação e com os recortes da estrutura lírica da linguagem, pois que no livro uma escrita sensível parece nos trazer de volta a emoção e os olhares de Chico Buarque acerca da estética das urbes.



O livro é resultado de uma pesquisa acadêmica da autora, feita com o rigor da síntese e da retificação das fontes, o que mostra a seriedade com que Cristina abordou o seu objeto de trabalho. A abertura do sumário entre-mostra o viés analítico da autora, as suas linhas de força, a sua precisão semântica e imagética, pois que de imagens são feitas a perspectiva e o tecido maduro do ensaio. Claro que se trata de um livro de estréia, onde a indecisão parece pontuar a travessia do texto, mas o que se constrói no livro como lição de amor a um ícone da música popular parece ser a chave com que Cristina revela todas as cidades de Buarque.



Na resenha de um livro não exige que falemos acerca dos méritos de quem o escreveu. E é por isto que não faço, neste texto, o elogio da autora. Registro, tão-somente, que Cristina é uma pessoa extremamente ética e cativante, pois que nos toca o coração com a sua verdade. A ela muito devem a cidadania ativa e as discussões sobre o meio ambiente e o nosso patrimônio histórico.



Amante da cultura lusófona, tem sido, no Ceará, uma irrequieta promotora de eventos e encontros que colocam a lusofonia e a lusofilia como pontos de observação e do maior interesse cultural.



Honra-me a condição de ser seu conterrâneo, e orgulho-me, por igual, de ter lido de primeiro a escritura sensível deste belo livro. Uma leitura de sensibilidade e invenção.



Ensaio

As Cidades de Chico Buarque

Cristina de Almeida Couto



IMPRECE

2010

94 PÁGINAS

R$ 30,00

Letras de música, leitura criativa e análise social
DIMAS MACEDO

COLABORADOR*

* Da Academia Cearense de Letras

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Discurso de Lançamento do livro: As Cidades de Chico Buarque.

              Conhecido e reconhecido como um compositor capaz de colocar em cada sentença, em cada frase e em cada contexto a palavra certa, Chico Buarque de Hollanda foi considerado um verdadeiro líder, coube a ele a utilização da palavra como instrumento de luta e de protesto num período onde a Censura ceifava e queimava nas fogueiras dos atos institucionais o espírito critico de toda uma geração. Apesar das perseguições Chico manteve acessa a chama da consciência e da dignidade humana.
             Em meados do século XX, as cidades brasileiras entraram numa nova fase histórica, sendo palco das transformações ocorridas pelos efeitos produzidos na industrialização, na internacionalização da cultura e do capital, cujos núcleos estruturais foram justamente os grandes centros. O duplo movimento da cidade despertou em Chico Buarque o observador, o flâneur, o homem da multidão que passeia pelas ruas a observar a paisagem urbana. Por um lado, é nos grandes centros que se concentram as funções mais avançadas do capitalismo descrita nos versos da canção “As Vitrines”, onde o mundo do fetiche e do consumo se funde ao medo e a insegurança que passaram a dominar a vida urbana na pós-modernidade. Por outro, as cidades tornam-se objetos de intensos fluxos de população e de uma profunda redistribuição de renda: seja nos bairros nobres, com uma formação de uma elite global móvel e altamente profissionalizada, seja nos bairros populares, com a ampliação dos cinturões periféricos que hoje as circundam, onde se junta uma grande quantidade de população deserdada. Em resumo, a cidade socialdemocrata que se afirmou no pós-guerra torna-se ameaçada em suas fundações, pois o tecido social é submetido a intensas pressões que produzem uma verticalização crescente: onde os ricos tendem a se tornar ainda mais ricos, desfrutando as oportunidades disponibilizadas pela ampliação dos mercados, enquanto os mais pobres afundam na miséria, destituídas de sistemas de proteção social, da ausência de políticas públicas e da falta de compromisso dos seus governantes.
             O efeito desse duplo movimento é presente na vida cotidiana dos moradores das cidades contemporâneas: os bairros centrais são valorizados e tornam-se objetos de grandes investimentos urbanísticos, já outras áreas são corroídas pela degradação e tornam-se marginais, locais estes versados na canção “Geni e o Zepellin”, onde Chico Buarque discutiu a pobreza, a diversidade sexual, o preconceito, os poderes ali dominantes e de como tudo cai por terra quando o medo e o interesse falam mais altos.
Em decorrência da dinâmica estrutural a que estão sujeitas as cidades, não surpreende que alguns explorem o medo, transformando-o na base de uma política de controle e repressão. A curto prazo, o jogo parece funcionar: a ação repressora e as reivindicações comunitárias servem apenas para tornar tolerável uma transformação que se processa fora de qualquer controle. Para que possamos reconstruir equilíbrios socialmente aceitáveis, precisamos de tempo, paciência, empenho da sociedade e competência e vontade dos governos.
              Fortaleza hoje é uma cidade global, embora não pareça se dar conta disso. Inserida nas grandes rotas turísticas, nossa cidade é um dos centros mais importantes do Brasil e constitui um núcleo estratégico com inúmeras áreas de atividade: desde do simples passeio turístico pelas suas belas praias a mais avançada inovação da alta costura.
            Tradicionalmente, Fortaleza é uma daquelas cidades que possui um grau relativamente alto de integração social. Não lhes faltam problemas. Nos últimos anos os índices de pobreza aumentaram consideravelmente e com isso algumas áreas periféricas começaram a sofrer um processo evidente de degradação. Da mesma forma, sabemos que crescem os processos de marginalização dos mais pobres: os desempregados por longos períodos, psicologicamente fragilizados, a prostituição e os sem tetos. Cidadãos tratados como empecilho, como estorvo pratica comum nas grandes cidades. E Fortaleza não foge a regra.
            Uma das qualidades das reflexões que Chico Buarque oferece nos versos de suas canções é a capacidade de jamais fechar o discurso, deixando sempre aberto o campo das possibilidades para longos e proveitosos debates. E nesse sentido Chico é um compositor efetivamente urbano que mostra dentro da sua arquitetura poética todas as faces da cidade sem se intimidar de incomodar os poderosos e o sistema dominante. “É um poeta moderno que arrasta a tradição” no imenso bloco carnavalesco que ele mesmo denominou de “Sanatório Geral”, dando vida a personagens fictícios tão vivos, tão reais, como: Juca o cidadão relapso do Brás, o operário Pedro Pedreiro, a prostituta Ana de Amsterdã, a lésbica Bárbara, o homossexual Geni e a senhorita da janela Carolina. Todos envolvidos e levados pela grande festa, pela folia e a euforia do carnaval, deixando suas marcas e suas histórias registradas nos paralelepípedos das velhas cidades e na memória coletiva do povo brasileiro.
Afinal: tudo vai passar....
Muito obrigada!!!